Por LUIZ CLAUDIO OLIVEIRA (Gazeta do Povo)
Produção gráfica é um luxo e a música é de primeira
Disco de Glauco Sölter levou mais de três anos para ser produzido e conta com a participação de 27 músicos.
O presente que é dado para os amantes da música instrumental está embalado em uma caprichada obra de artes gráficas. O disco vem dentro de uma caixa metálica e é acompanhado por um livreto de 24 páginas, com belas fotos assinadas por Sossella, Sílvio Silva Jr. e Karine Kawamura.
“O CD foi planejado ao máximo para ser uma obra perene, na arte e na música. É entretenimento imediato e é atemporal”, afirma o músico que se revela em grande fase. “Eu e outros músicos do Paraná trabalhamos para alcançar um nível artístico condizente com grandes produções mundiais”, diz, mostrando o foco de todo o trabalho.
O projeto foi produzido – e aqui isso significa bem mais do que apenas pagar – pelo estúdio Lumen Design. Em tempos de indecisão sobre o futuro do CD, é de impressionar que alguém ainda tenha tamanho cuidado na produção. Quem piratear, fique sabendo que estará perdendo. É daquele tipo de CD que, mesmo que não se goste da música – o que não é o caso – deve-se comprar nem que seja para colecionar.
As gravações envolveram estúdios na França, Itália e Curitiba e reúnem 27 músicos da qualidade de Hermeto Pascoal, Raul de Souza, Nailor Proveta, Jorginho do Trumpete e da cantora francesa Clem, entre outros. E tudo isso por R$ 22,00, que é o preço sugerido pelos produtores. O CD pode ser encontrado nas Livrarias Curitiba, na loja Savarin, no vendedor de discos da feirinha de Artesanato de Curitiba (sempre aos domingos, no Largo da Ordem) e nos shows, que não serão poucos. Depois de hoje, há outro marcado para a Fnac do Shopping Barigüi. Então segue em turnê nacional, além de um circuito internacional.
Grande família
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As viagens musicais não são novidade para Sölter, pois o CD nasceu durante uma turnê na Europa com a cantora Clem. A primeira canção gravada nasceu sobre os palcos europeus. “A Clem é uma cantora linda, muito afinada e cantava em português a música ‘Pra Dizer Adeus’ (Edu Lobo e Torquato Neto) e cada vez que ela cantava eu chorava, então decidi gravar para não perder o momento.”, revela Glauco.
No CD, a música é a sexta faixa e vem erradamente creditada para Edu Lobo e Tom Jobim. Glauco assume o erro, mas a canção não deixa de ter um “quê” de Tom. Depois da base gravada, Sölter escreveu arranjo para cordas e utilizou-se de frases musicais de Tom Jobim, que se infiltram na melodia original.
Cada música aproveitada no disco tem sua história, como a de “Para Ravi e Jade”, composição de Glauco Sölter em homenagem aos filhos. “No meio da turnê eu senti muito a falta dos filhos. Me bateu uma saudade danada. Então compus esta música e tocava sozinho, no quarto, como uma forma de oração para eles. Ela começa calma, fica um tanto perigosa e depois acalma novamente. Eu fico emocionado cada vez que a toco”.
E as histórias continuam como na já referida “Asfrenando”, que abre o CD. “Chamei de Asfrenando porque a melodia nasceu muito fácil e rápida no baixo, mas foi mais complicada para os metais que sofreram para tocar”, revela. Jorginho do Trompete foi o músico que “sofreu” no solo. Nailor Proveta, veja que luxo, faz apenas naipe com o sax.
A segunda faixa, “Vôo da mosca”, clássico do choro de autoria de Jacob do Bandolim, é conhecida por ter uma melodia bastante difícil. O baixo de Glauco toca junto com o clarinete do jovem músico Jairo Wilkens. Os dois e mais o tecladista Davi Sartori formam o grupo Quebra Queixo, mais um dos inúmeros trabalhos paralelos de Glauco.
Outras músicas também faziam parte do dia-a-dia musical de Sölter, como a “Viva o Rio de Janeiro”, de Hermeto.